Yãmiy, os espíritos do canto: a construção da pessoa na Sociedade Maxakali
O objeto de estudo desta dissertação é a sociedade indígena Maxakali, do nordeste do estado de Minas Gerais, grupo ainda praticamente desconhecido na literatura etnológica existente, a despeito de sua riqueza e complexidade etnográfica. A etnografia se desenvolve em uma descrição da sociedade e da cosmologia. O fio condutor é a construção da noção de Pessoa que será tratada a partir da compreensão de um duplo fluxo de transformação - o do sangue e o da palavra. A descrição da sociedade Maxakali procura situar as diferenciações de espaço e tempo da sociabilidade e compreender os processos de formação do Grupo local na dinâmica social. O universo do parentesco e do casamento demarca as relações de reciprocidade, esgarçada entre a partilha e a pilhagem. A relação ritual - Komãy - de troca de bens (alimentos) e de corpos (serviços funerários) perpassa o sistema de parentesco, sobrepondo-se a este. Uma reflexão sobre as categorias de 'morto/inimigo afim' será levada acabo a partir de dois pares de oposição entre vivos/yãmiy (mortos e espíritos) e dentro deste par, humanos/inimigos (outros estranhos). A construção da pessoa Maxakali é realizada através do controle humano sobre o trânsito celeste - o movimento dos Yãmiy. As implicações deste movimento espiritual sobre o movimento humano será central para os rituais de cura. A questão da doença e dos ciclos biológicos, a escatologia Maxakali, será abordada através da perspectiva da construção da pessoa.
Referência: ALVARES, M. M. Yãmiy, os espíritos do canto: a construção da pessoa na Sociedade Maxakali. 1992. 235f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP.