Negros e africanos em Minas Gerais : construções e narrativas folclóricas.

Autor: 
RAPCHAN, Eliane Sebeika.
Resumo: 

A pesquisa desenvolvida pretendeu dar conta de três questões: 1) Por que existem tão poucos trabalhos acadêmicos sobre os descendentes de afiicanos contemporâneos em Minas Gerais?; 2) Em que contexto se dá e qual a legitimidade intelectual e social da produção dos folcloristas mineiros sobre estas populações?; 3) Quais são as características e os sentidos do conhecimento produzido pelos folcloristas mineiros sobre estas populações? O caminho escolhido para tentar respondê-las foi o da realização de uma antropologia do conhecimento e das idéias fundamentada, principalmente, nas propostas de história das idéias de Adam Kuper e, para isso, os folcloristas mineiros foram encarados como os narradores e os textos por eles produzidos, sobre as populações de origem amcana, foram tratados como narrativas. Esse procedimento identificou um diálogo entre a produção folclórica brasileira em geral, e a produção folclórica mineira, em particular durante os processos de criação de espaços institucionais para cientistas e folcloristas, ou seja, até aproximadamente a década de cinqüenta. Do mesmo modo, os folcloristas mineiros dialogam até hoje com a universidade, em vários níveis, seja trabalhando nas universidades mineiras, seja apropriando-se e/ou transformando a produção acadêmica em favor da produção folclórica, seja, mais recentemente, ingressando nos programas de pós-graduação em centros universitários de referência. No âmbito da produção de conhecimento e idéias, particularmente sobre as populações mineiras de origem africana, o diálogo entre folcloristas mineiros e ciências sociais adquire uma peculiaridade que residiu na incorporação de dois parâmetros caros à intelectualidade brasileira, desde a abolição da escravidão, e que, em resumo, corresponderam, num primeiro momento, a tentativas de equacionar os grupos que compõem a cultura e a sociedade brasileira, a fim de descobrir a viabilidade ou não do Brasil enquanto nação e, num segundo momento, aos esforços de garantir o reconhecimento destas expressões folclóricas, bem como daqueles que produzem conhecimento sobre elas, os folcloristas. Estes parâmetros, ou seja, as noções de Kultur e de "civilization" serviram para definir os conteúdos do que se entende por "negro" e por "africano", no contexto da produção de narrativas sobre o folclore e as expressões de cultura popular produzidos pelas populações mineiras de origem amcana e servem, hoje, para definir identidades sociais, espaços sociais e razões para a existência das manifestações folclóricas produzidas por essas populações.

Referência: RAPCHAN, E. S. Negros e africanos em Minas Gerais : construções e narrativas folclóricas. 2000. 453 p. Tese (doutorado em antropologia). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas - Campinas. 2000.

Palavras-chave: 
Antropologia, Teoria do conhecimento, Relações raciais, Cultura popular, Danças folclóricas.